Como lidar com a síndrome de interrupção do escitalopram (abstinência) - três artigos
Como lidar com a síndrome de interrupção do escitalopram
O escitalopram, mais conhecido por seus nomes comerciais Lexapro e Cipralex, é um antidepressivo da classe dos ISRSs (inibidores seletivos da recaptação da serotonina). Drogas como o Lexapro bloqueiam a recaptação do neurotransmissor serotonina. O Lexapro é aprovado pela U.S. Food and Drug Administration para o tratamento do transtorno depressivo maior e do transtorno de ansiedade generalizada. Também é utilizado em casos de fobia social, síndrome do pânico e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). A interrupção do tratamento pode trazer efeitos colaterais desagradáveis, mas o uso de algumas técnicas pode ajudar a reduzir os sintomas de abstinência.
Drogas como o Lexapro bloqueiam a recaptação do neurotransmissor serotonina (pills image by Alyona Burchette from Fotolia.com)
Síndrome de Interrupção dos ISRSs
Após cerca de quatro semanas de uso de um ISRS como o Lexapro, o organismo humano se acostuma aos níveis elevados de serotonina. Portanto, a interrupção do tratamento após uso da droga por período superior a um mês só deve ser feita com recomendação médica. Com a descontinuação ou interrupção do medicamento ou até mesmo diminuição da dosagem, sintomas de abstinência podem surgir após um período de 1 a 7 dias, dependendo da meia-vida da droga (a meia-vida do Lexapro, por exemplo, é de aproximadamente 27 a 32 horas). A intensidade e duração da crise de abstinência varia entre os indivíduos: alguns pacientes sentem apenas desconforto e sintomas leves, tipicamente por um período entre uma semana ou várias, enquanto outros experienciam sintomas angustiantes, que podem durar meses.
Sintomas de abstinência e como tratá-los
A descontinuação do Lexapro causa sintomas físicos e psicológicos. Fisicamente, pacientes relatam problemas de equilíbrio, diarreia, fadiga, dores de cabeça, tremores, náusea e problemas gastrointestinais (algumas vezes semelhantes aos causados por uma gripe) e dificuldades para dormir. Psicologicamente, é comum que os pacientes relatem ansiedade, agitação, vontade de chorar, irritabilidade e agressividade. Os sintomas causados pela interrupção do uso de ISRSs devem ser tratados conforme aparecerem, oferecendo alívio ao paciente durante o processo de descontinuação do medicamento. (Tome ibuprofeno para dor de cabeça, anti ácido para acidez estomacal etc). Todavia, alguns dos sintomas da abstinência de ISRSs não são tratáveis, como as parestesias, casos em que o paciente tem sensações estranhas de tontura, sudorese, vertigem ou a sensação de o cérebro estar tremendo. Algumas pessoas descreveram esse último sintoma como a sensação de luzes estroboscópicas estarem pulsando dentro de seus cérebros.
Redução da dose
Médicos utilizam técnicas de redução da dosagem, para ajudarem seus pacientes a abandonarem o Lexapro e outros ISRSs. Um método comum é reduzir gradualmente a dosagem ao longo de meses ou semanas, o que pode ser feito através da quebra dos comprimidos em doses menores. Dependendo da gravidade dos sintomas de abstinência, o médico decide como proceder com a retirada do ISRS. Na maioria dos casos, a interrupção é um processo rápido, todavia, se os sintomas de abstinência forem graves o médico pode optar por recomendar que o paciente volte a usar o medicamento. Outra técnica é trocar o Lexapro por outro ISRS, como a fluoxetina, que tem meia-vida mais longa e portanto, fica mais tempo no organismo, ajudando a reduzir os sintomas de abstinência.
http://www.ehow.com.br/lidar-sindrome-interrupcao-escitalopram-estrategia_20339/
Abstinência de antidepressivos
Grande número de pessoas faz uso de antidepressivos. Nos últimos anos, os chamados inibidores da recaptação da serotonina têm sido o grupo de drogas mais empregadas no tratamento de distúrbios psiquiátricos como depressão, ansiedade, bulimia, estresse pós-traumático, obsessão-compulsão, disforias pré-menstruais e outros.
Pertencem a esse grupo medicamentos como fluoxetina (Prozac, Daforin, Eufor), paroxetina (Aropax), sertralina (Zoloft) e outros. O sucesso dessas drogas na clínica se deveu especialmente à tolerabilidade e segurança de uso em comparação com os antidepressivos empregados anteriormente.
Síndrome de abstinência
No entanto, um dos problemas mais frequentes associados ao uso desses inibidores é o aparecimento de síndrome de abstinência, quando sua administração é interrompida abruptamente.
Fenômeno semelhante pode ocorrer com outros antidepressivos não pertencentes a esse grupo, como a venlafaxina (Efexor), mirtazapina (Remeron), etc.
Síndrome de abstinência, aqui, é definida como “um conjunto de sinais e sintomas de instalação e duração previsíveis, que envolve sintomas psicológicos e orgânicos previamente ausentes à suspensão da droga e que desaparecem depois que ela foi reiniciada”.
Sintomas da síndrome
A abstinência à descontinuação abrupta dos inibidores da recaptação de serotonina, surge 24 a 72 horas depois da interrupção do tratamento e provoca os seguintes sintomas:
1) Psiquiátricos: ansiedade, insônia, irritabilidade, explosões de choro, distúrbios de humor e sonhos vívidos;
2) Neurológicos e motores: tonturas, vertigens, sensação de cabeça vazia, cefaleia, falta de coordenação motora, alterações de sensibilidade da pele e tremores;
3) Gastrintestinais: náuseas, vômitos e alterações do hábito intestinal;
4) Somáticos: calafrios, fadiga, letargia, dores musculares e congestão nasal.
Na ausência de tratamento esses sintomas desagradáveis costumam durar de uma a três semanas. Embora sejam discretos ou de moderada intensidade na maioria dos casos, às vezes podem se tornar mais intensos e serem confundidos com outras enfermidades.
A probabilidade de desenvolver a sintomatologia descrita é tanto maior quanto mais longa tiver sido a duração do tratamento. As reações geralmente estão associadas com durações de pelo menos quatro a seis semanas, mas podem acontecer depois de períodos de uso mais curtos.
Quanto mais rapidamente for excretado o antidepressivo, maior a probabilidade de surgir a síndrome. No caso de drogas como a fluoxetina que têm meia-vida (tempo necessário para eliminar metade da droga administrada) de 2 a 3 dias, os sintomas de abstinência podem instalar-se mais tardiamente (até uma semana depois da interrupção).
Duas a três semanas depois de instalados os sintomas da abstinência, costuma ocorrer um fenômeno conhecido como “rebote”: o reaparecimento dos sintomas psiquiátricos que levaram à indicação do medicamento.
Tratamento
O tratamento da síndrome de abstinência é óbvio: basta reiniciar a droga cuja retirada intempestiva foi responsável por ela. Com o reinício do tratamento os sintomas começam a melhorar já nas primeiras 24 horas. Para evitar a repetição do quadro, as doses diárias devem ser diminuídas gradativamente no decorrer de quatro a seis semanas, até que a interrupção completa possa ser realizada com segurança.
O grande número de pessoas que faz uso de antidepressivos atualmente, deve estar informado de que os efeitos benéficos do tratamento pode levar até seis semanas para se tornar aparente, e que precisa ser continuado por períodos de seis meses a um ano, para evitar recaídas precoces. Em caso de quadros depressivos que se instalam antes dos vinte anos de idade, em pacientes com recaídas múltiplas ou distúrbio bipolar, o tratamento pode exigir mais tempo ainda, ou mesmo estar indicado para ser mantido pelo resto da vida.
Durante esse período é fundamental que as doses diárias sejam tomadas com regularidade, porque os sintomas de abstinência podem surgir depois de apenas dois ou três dias de interrupção.
https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/abstinencia-de-antidepressivos/
Uso de antidepressivos e sintomas de interrupção
Saulo Castel, Maria Laura N Pires e Helena Maria Calil
Há algumas décadas foi reconhecido que uma interrupção abrupta ou mesmo gradual dos antidepressivos clássicos provoca o aparecimento de sintomas somáticos e psicológicos.1 Além disso, nos últimos anos também têm sido descritos sintomas de interrupção do tratamento com a nova classe de antidepressivos, os ISRS.
Os critérios para uma suposta síndrome de interrupção incluem: (1) os sintomas não são atribuíveis a outras causas; (2) aparecem após a interrupção abrupta, falhas na ingestão e, mais raramente, após a redução da dose; (3) geralmente são leves e de curta duração, embora possam causar preocupação; (4) podem ser revertidos com a reintrodução do medicamento original ou outro fármaco similar; (5) podem ser minimizados com a redução gradual da medicação ou administração de ISRS de meia-vida longa.2
Sintomas de interrupção do tratamento com antidepressivos clássicos
Podem ser divididos em cinco grupos:
- perturbações gastrintestinais e/ou somáticas gerais (náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia, anorexia, calafrios, mal-estar, fraqueza, cansaço, mialgias e cefaléia) com ou sem ansiedade e excitação concomitantes;
- insônia inicial ou média, amiúde acompanhada de sonhos e/ou pesadelos vívidos;
- hipomania ou mania paradoxal, ataques de pânico e delírio;
- arritmias cardíacas;
- movimentos anormais (acatisia, parkinsonismo), menos freqüentemente.
A freqüência desses sintomas de interrupção, dependendo do tipo de antidepressivo, pode variar entre 16% e 100%, tendendo a ser transitória e raramente necessita de tratamento. O melhor parece ser a reintrodução do agente, seguida de sua suspensão gradual.Vários relatos descrevem sintomas de interrupção de maior gravidade após a suspensão de Inibidores de Monoaminoxidase (IMAO): agitação, agressividade, irritabilidade, discurso acelerado ou lentificado, insônia ou hipersonia, deterioração cognitiva, instabilidade afetiva, alucinações, delírios paranóides e transtornos motores.
A venlafaxina também induz sintomas de interrupção, como astenia, tonturas, cefaléia, insônia, náuseas, nervosismo e síndrome do tipo gripal, com uma incidência de 5%.3
Sintomas de interrupção (SI) dos ISRS
Os estudos clínicos precedendo a comercialização de um composto geralmente não identificam SI por sua curta duração, falta de acompanhamento dos pacientes após a suspensão do tratamento, ausência de pesquisa sistemática desses sintomas e exclusão dos pacientes que freqüentemente pulam doses. Em geral, as primeiras descrições provêm de relatos de casos, que são seguidos por dados de farmacovigilância e, finalmente, estudos especificamente desenhados para investigar esse fenômeno. Esses permitem identificar o perfil dos sintomas, a sua prevalência e os fatores de risco.
Estudos de relatos de casos com quatro ISRS (fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina) na Grã-Bretanha indicaram que a paroxetina teve a maior prevalência de SI, seguida pela fluvoxamina.4
Numa revisão de 171 casos de pacientes ambulatoriais que tinham sido supervisionados durante o período de redução e suspensão da dose de clomipramina, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina, a freqüência desses sintomas foi: clomipramina (30,8%), paroxetina (20%) e fluvoxamina (14%), sertralina (2,2%) e fluoxetina (0%). Esses sintomas geralmente começaram entre 2 e 3 diasapós a última dose e desapareceram em 24h com a retomada da paroxetina, enquanto que naqueles em que este medicamento não foi administrado novamente, persistiram até 21 dias.5
A síndrome de interrupção dos ISRS tem os seguintes sintomas: (1) transtornos do equilíbrio (p. ex., tonturas, vertigem, ataxia); (2) transtornos gastrintestinais; (3) gripais como cansaço, letargia, mialgia, calafrios; (4) transtornos sensitivos ou sensoriais (p. ex., parestesia, sensação de choque elétrico); e (5) transtornos do sono (p. ex., insônia, sonhos vívidos). Os sintomas psicológicos têm sido, por ordem de freqüência, ansiedade/agitação, crises de choro e irritabilidade, hiperatividade, despersonalização, desânimo, problemas de memória, confusão e diminuição da concentração e/ou lentidão do pensamento. Todos os sintomas são de intensidade de leve a moderada e podem ser observados mesmo após a diminuição da dose ou omissão de algumas doses.6 Seu tratamento está descrito na Tabela 1.7
Tabela 1 - Estratégias para o manejo dos sintomas de interrupção do tratamento
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A hipótese melhor fundamentada do mecanismo da síndrome de interrupção de ISRS é a diminuição da serotonina disponível na sinapse em conseqüência da diminuição de receptores serotoninérgicos (5-HT2 e/ou 5-HTA).8
Seria interessante destacar que a paroxetina, mais freqüentemente associada com a síndrome de interrupção, é o inibidor mais potente da recaptação da serotonina e o ISRS de meia-vida mais curta. Ao contrário, a fluoxetina (maior meia-vida) não parece causar problemas durante a suspensão abrupta.9
As diferenças entre início, freqüência, intensidade e duração da síndrome de interrupção entre os ISRS poderia ser explicada também pelo padrão farmacocinético de cada composto,10 principalmente meia-vida e presença ou ausência de metabólito ativo (Tabela 2). Entretanto, esses parâmetros isoladamente não explicam completamente as diferenças entre ISRS, principalmente em relação à freqüência.
Tabela 2 - Parâmetros farmacocinéticos dos ISRS
Droga
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Meia-vida (horas)
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Metabólito ativo e sua meia-vida
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Fluoxetina
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144
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norfluoxetina (7-15 dias)
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Sertralina
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26
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n-desmetilsertralina (66 h)
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Citalopram
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33
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nenhum
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Paroxetina
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21
|
nenhum
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Fluvoxamina
|
15
|
nenhum
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Discussão
Os sintomas de interrupção dos ISRS são semelhantes aos descritos após a suspensão dos antidepressivos tricíclicos e dos IMAO. Entretanto, as alterações sensitivas parecem ocorrer apenas após a suspensão da administração de ISRS.
Muitos relatos de casos têm-se referido à síndrome de interrupção de ISRS como "sintomas de abstinência", embora esses sejam diferentes da síndrome de abstinência clássica associada a substâncias psicoativas. Os antidepressivos não têm sido associados à tolerância, dependência ou busca ativa do medicamento. Esses são alguns dos motivos pelos quais se tem escolhido a denominação de sintomas de abstinência ou mesmo síndrome de interrupção.
Esses sintomas não devem ser considerados como uma recaída da depressão, uma vez que ocorrem também em pacientes com outras patologias. Na prática clínica, um aspecto que ajuda a diferenciar os sintomas de interrupção de uma recaída é que esses aparecem antes. A prevalência reduzida dos sintomas de interrupção do tratamento com ISRS não deve limitar sua utilidade clínica.
Referências
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- Schatzberg AF, Haddad P, Kaplan EM, Lejoyeux M, Rosenbaum JF, Young AH, Zaje et al. Serotonin reuptake inhibitor discontinuation syndrome: a hypothetical definition. J Clin Psychiatry 1997;58(suppl 7):5-10.
- Lejoyeux M, Ades J. Antidepressant discontinuation: a review of the literature. J Clin Psychiatry 1997;58(suppl 7):11-5.
- Price JS, Waller PC, Wood SM et al. A comparison of the post-marketing safety of our selective serotonin re-uptake inhibitors including the investigation of symptoms occuring on withdrawal. Br J Clin Pharmacol 1996;42:757-63.
- Coupland NJ, Bell CJ, Potokar JP. Serotonin reuptake inhibitor withdrawal. J Clin Psychopharmacol 1996;16:356-62.
- Goldstein BJ, Goodnick PJ. Selective serotonin reuptake inhibitors in the treatment of affective disorders _ III. Tolerability, safety and pharmacoeconomics. J Psychopharmacol 1998;12(suppl 3):S55-S87.
- Rosenbaum JF, Zajecka J. Clinical management of antidepressant discontinuation. J Clin Psychiatry 1997;58(suppl 7):37-40.
- Schatzberg AF, Haddad P, Kaplan EM, Lejoyeux M, Rosenbaum JF, Young AH, et al. Possible biological mechanisms of the serotonin reuptake inhibitor discontinuation syndrome. J Clin Psychiatry 1997;58(suppl 7):23-7.
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- Michelson D, Fava M, Amsterdam J, Apter J, Londborg P, Tamura R, et al. Interruption of selective serotonin reuptake. Double-blind, placebo-controlled trial. Brit J Psychiatry 2000;176:363-8
http://www2.unifesp.br/dpsiq/polbr/ppm/atu4_03.htm
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