Ansiedade: um inimigo silencioso que dificulta a vida dos brasileiros
Ansiedade: um inimigo silencioso que dificulta a vida dos brasileiros
18,6 milhões de brasileiros viviam com algum transtorno de ansiedade em 2015 | Foto Eduardo Montecino/OCP News
Ao se deparar com uma situação simples do cotidiano, como interagir com o vendedor de uma loja, você sente as mãos suando, trava o maxilar ou nota as batidas do coração mais apressadas e sensíveis aos ouvidos.
Outro momento crítico é quando, no trabalho, precisa apresentar seus resultados em uma reunião com colegas e superiores, porque sabe que vai “dar um branco”, suas axilas vão suar e a fala sairá gaguejada.
Esses acontecimentos, tão comuns às pessoas, mostram diferentes níveis de ansiedade, que ocorre a partir de uma preocupação, tensão, medo, pavor ou qualquer outro sentimento ruim em excesso.
De forma geral, todos vivem esse processo de ansiedade, principalmente na sociedade atual, em que as cobranças são muitas, girando em torno de sucesso, status e exigindo superação.
Levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que atualmente cerca de 33% da população mundial sofre de ansiedade.
O Brasil tem aparecido sempre entre os primeiros das listas da organização – na pesquisa divulgada no ano passado, estava no topo do ranking: um total de 18,6 milhões de brasileiros viviam com algum transtorno de ansiedade em 2015.
Aos 17 anos, o estudante do ensino médio Davi Josoé Wollmann Souza acredita que, se não estivesse recebendo acompanhamento psicológico, não conseguiria conceder entrevista ao OCP.
Ele diz que evitava qualquer conversa com as pessoas, pois não era capaz de falar em consequência da ansiedade. Hoje, essa é uma de suas conquistas, poder se controlar a ponto de dialogar com um desconhecido.
O jovem conta que, desde criança, sempre se sentiu ansioso e ficava tentando imaginar os acontecimentos futuros. “E já vou planejando na minha cabeça antes para ter uma resposta, daí fico bem nervoso. Às vezes fico mal por uma coisa que nem sei se vai acontecer ou se vai ser ruim, mas já antecipo”, conta.
As sensações que o tomam são angústia, trava para falar ou, se cria a ilusão de que um acontecimento mais estressante está por vir, passa a sentir muita raiva. “Eu também tremo um pouco, assim como agora”, confessa.
Auxílio profissional
No ano passado, Davi passou a fazer acompanhamento psicológico. Justamente por não conseguir dizer aos pais o que sentia, buscou auxílio profissional e garante que a melhora foi grande. O adolescente também passou a correr, para liberar o estresse, e a meditar, o que ajuda a controlar a mente.
“Eu me pego prevendo, tentando imaginar o que vai acontecer, mas, mesmo tendo essa percepção, ainda fico mal, embora tenha mais controle e entenda de onde vem esse sentimento”, diz.
Quando se depara com algo que deseja muito, os níveis de ansiedade logo se elevam. O estudante diz que busca antecipar tudo o que vai acontecer e isso é muito desgastante.
Se vai ter uma conversa com alguém e imagina que a situação vai ficar difícil, é capaz de ficar com muita raiva da pessoa antes mesmo do encontro acontecer.
“A conversa fica acontecendo na minha cabeça, eu antecipo a fala e até a desculpa quando sei que estou errado”, revela Davi. Apesar de ainda ter picos de muita ansiedade, ele acredita que o acompanhamento está ajudando a reverter esse quadro.
Desejos bloqueados e muitas exigências
De acordo com a psicóloga Ana Luiza da Silva Vilhena, a ansiedade é uma construção. Na opinião da profissional, dizer que ela é um mal da nossa sociedade faz muito sentido, porque seu desenvolvimento acontece desde a infância.
“A gente vai crescendo e vai mostrando desejo de fazer certas coisas e, enquanto a gente cresce, vai aprendendo que mesmo que queira, tem coisas que não pode fazer", explica a psicologa.
"Precisamos do outro para nos frear, o pai, a mãe, os professores e a sociedade dizem pra gente o que não se pode fazer, e a gente vai parando e aprendendo a se barrar”, emenda.
Com o tempo, conforme a profissional, esses primeiros instintos são esquecidos. Mais tarde, ao encontrar algo que remete àquele desejo, surge a ansiedade. “Não lembramos daquilo que foi deixado para trás, mas temos esse resquício nas nossas vidas”, complementa.
Ana Luiza explica que o estilo de vida atual, onde as demandas são muitas, favorece o sintoma, que pode se agravar com o tempo. Cobranças em todas as áreas, profissional, pessoal, econômica, intelectual, vão pressionando o indivíduo sistematicamente.
"Estamos o tempo todo recebendo estímulos que nos pressionam a ser pessoas melhores em tudo, mais bonitas, mais inteligentes, com mais sucesso. Há expectativa, há comparação e a gente fica o tempo todo sendo demandado para fazer melhor e diferente", ressalta.
A ansiedade aparece no corpo: a mão sua, a pessoa treme, o ritmo da respiração se altera, justamente porque o coração está acelerado. São muitos os indícios de que determinada situação deixa a pessoa apreensiva em excesso.
“Eu, por exemplo, sou de uma família bastante rígida, então, quando eu queria me expressar, precisava conter, precisava parar, precisava voltar. Conforme eu ia me expressando, ia sendo diminuída, ia sendo podada, reprimida nos meus desejos de expressão", revela.
"Com o passar do tempo, quando eu precisava dizer alguma coisa, sentia ansiedade, porque eu tinha aquela lembrança de que não podia falar, que tinha que ficar em silêncio, que tinha que obedecer aos mais velhos”, completa.
A psicóloga explica que cada um vai sintomatizar de um jeito. No caso dela, foi o bruxismo. Ana Luiza revela que quando é levada a momentos em que eu sente dificuldade de se expressar, ela faz a tração do maxilar.
“Alguns sentem dormência nas mãos, outros chacoalham a perna, ficam batendo em alguma coisa. São formas por onde a ansiedade vaza devido aos desejos consecutivamente reprimidos”, comenta.
Há crises de ansiedade muito fortes e que vão se tornando incontroláveis para algumas pessoas. As principais formas que o sintoma se apresenta são as fobias sociais; por organização, como o TOC (transtorno obsessivo compulsivo); e generalizada (sem controle).
Ataque de pânico
A auxiliar de redação Alinne Vezoli, 23 anos, conta que sempre se sentiu um pouco mais ansiosa do que as outras pessoas e costumava se preocupar antecipadamente com o que ia acontecer. Mas, um episódio que ocorreu há cinco anos, em que foi exposta a um estresse muito alto, desencadeou ansiedade e ataque de pânico.
“Aí comecei a ter muita falta de ar, meu coração acelerava do nada, sem nenhum problema aparente. Isso acontecia toda a vez que eu deitava na cama para dormir. Meus pais ficaram preocupados porque meu coração acelerava muito e procuramos atendimento. No hospital, os médicos falavam que eu não tinha nada. Fizeram exames e constataram que era algo emocional”, conta.
Um psiquiatra diagnosticou sintomas de um ataque de pânico, causado por ansiedade em excesso. No auge do problema, Alinne ficou duas semanas sem conseguir dormir, porque toda a vez que deitava na cama sentia como se estivesse enfartando.
“É normal todo mundo ficar ansioso, mas o problema começa quando o nosso corpo acha que está em perigo quando ele não está realmente. Isso que desencadeia o ataque de pânico. Então, eu deitava na cama e o meu cérebro achava que aquilo era perigoso, achava que eu iria morrer dormindo", conta.
Alinne passou, então, a não dormir para evitar que alguma coisa acontecesse. Quando pegava no sono, acordava assustada, sem conseguir respirar. Foi nessa época que passou a tomar medicamento para controlar a ansiedade.
Tratamento com acupuntura
Até três meses atrás, Alinne tomava o medicamento todos os dias, até descobrir um tratamento alternativo.
“Quando comecei a fazer acupuntura, percebi uma melhora em todos os sentidos, comecei a me sentir menos ansiosa, a dormir melhor. Comecei a parar com o remédio e agora tomo só uma vez por semana”, comenta.
Hoje, Alinne ainda frequenta o psiquiatra a cada seis meses, pratica exercícios físicos para liberar o estresse e busca soluções mais naturais para evitar as crises.
“A acupuntura, a yoga, até chás podem ajudar, porque medicamentos trazem efeitos colaterais. Foram quatro anos tomando remédios, e só agora eu consegui parar com eles e ficar sob controle”, comemora.
Para ela, a organização e demandas da sociedade atual favorecem a ansiedade, pois as pessoas são cobradas no trabalho, no estudo, na família - muitas vezes, 24 horas por dia. “A gente tem tanto medo de errar que vai acumulando muita coisa. A ansiedade em excesso e o ataque de pânico é o limite, é quando a gente acaba transbordando”, completa.
Todo mundo tem?
Para a psicóloga Ana Luiza, não é possível afirmar que todos têm ansiedade, porque algumas pessoas possuem transtornos diferenciados de personalidade, de deficiências intelectuais, que às vezes dificultam o aparecimento do sintoma.
“Mas, de uma forma geral, todos nós vivemos nesse processo de ansiedade, principalmente na nossa sociedade atual”, afirma.
Segundo a profissional, o tratamento psicológico costuma voltar-se para o que a pessoa realmente deseja, para a diferença entre o que ela quer e o que ela acredita que precisa fazer para cumprir um papel social. “Quando a gente se conecta com a gente mesmo, as crises de ansiedade tendem a diminuir.”
Além da medicação, tanto os fármacos como os fitoterápicos, são indicados exercícios de respiração e atividade física. Para Ana Luiza, é importante observar quando as crises de ansiedade aparecem, o chamado gatilho. Porque aí é possível encontrar ferramentas para trabalhar melhor a ansiedade.
A meditação é indicada porque a pessoa se volta para ela mesma, consegue se perceber e controla melhor o corpo. Ter percepção do que está acontecendo é um grande passo para quem apresenta o sintoma.
“Quando a gente tem ansiedade, é importante colocar na cabeça que não é verdade, que o que está acontecendo não é um perigo. Hoje eu consigo fazer isso, tenho essa percepção”, ressalta Alinne.
Dicas e hábitos que diminuem a ansiedade:
Além do tratamento convencional, com psicologia e psiquiatria, existem tratamentos alternativos e práticas que podem ajudar a controlar a ansiedade. Para seguir essas dicas, o ideal é procurar um profissional.
- Meditação/yoga;
- Controle da respiração;
- Exercícios físicos;
- Acupuntura, fitoterápicos e florais de Bach;
- Ingestão de alimentos com triptofano (por exemplo, banana e chocolate);
- Ingestão de chás (passiflora, melissa, camomila);
- Organização do ambiente e da agenda;
- Fortalecimento do autoconhecimento.
https://ocp.news/especiais/ansiedade-um-inimigo-silencioso-que-dificulta-a-vida-dos-brasileiros
Ótimo post.
ResponderExcluirExcelente trabalho.
Parabéns pelo blog.