MEU NOME É ANSIEDADE

MEU NOME É ANSIEDADE


Por: Mônica Raouf El Bayeh em  



Sabe quem eu sou? Meu nome é ansiedade. Eu sou o medo de não dar certo. De não saber responder. De não ficar duro. De tropeçar e cair na frente de todo mundo.
Sua pior fantasia de coisas que podem acontecer justo quando tudo precisava ser perfeito. Sou o frio na barriga. O coração batendo rápido e as mãos geladas. Sou eu também.
Eu te torturo com perguntas internas. Será que estudou tudo? Conferiu a mala? As listas? Os convidados? Fechou tudo? Tem certeza? Eu sou a tensão do desconhecido que vem chegando. A vontade de quem precisa acertar.
Também sou a dor de barriga na véspera da prova. A dor de cabeça de quem acha que fez besteira. Sou o enjoo de quem está se afogando em medo. O vômito de quem já não suporta tanta pressão.
Sou absolutamente saudável. Um sinal de alerta. Um aviso de que é preciso estar atento e pronto para o que está por vir. Quando tudo acaba e dá certo, eu viro apenas uma sensação leve de dever cumprido. Uma espécie de:
- Caramba, eu consegui.
A grande questão é quando eu nunca diminuo. Continuo sempre no mesmo ritmo de cobrança. De preocupações. Uma tensão constante e crescente que vai minando a saúde e a energia da pessoa.
Férias. Sombra e água fresca. Era para estar você feliz e descansada? Era, mas você olha para o marzão na sua frente. Bebe uma água de coco e, pensa:
- Se alguém morrer, será que me avisam ou me escondem até eu voltar? O dinheiro vai dar até o fim da viagem? O trabalho estará mesmo garantido?
As preocupações são como as ondas do mar. Mais fortes, mais fracas. Mas não param. Brotam o tempo todo e atormentam a alma.
Os conhecidos dizem que você procura os problemas. Não é verdade. Eu sei. Você não consegue fazer diferente. É o TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) que chega para criar confusão.
TAG é como um elefante que vinha passando. Te dá uma encarada. Gosta de você. E senta no seu colo. Bem em cima de você. Imaginou? Até respirar é difícil. O ar some. A leveza da vida se vai. Você, no máximo, se arrasta. Amassada pelas preocupações.
Sua vida tem a tensão de um filme de suspense. Sempre à espera do próximo susto.
- Para que sofrer por antecedência?
Dizem os amiguinhos conselheiros. Falar é fácil. Dar conselho mais ainda. Ninguém sofre porque quer. Os sintomas da ansiedade vão surgindo aos poucos. Uma insegurança esquisita.
Compra e volta para trocar no dia seguinte. Decide, muda de ideia. Uma ruminação interna que acaba com qualquer energia. Desgasta. Gera tensão e um nervosismo enorme.
Pessoas ansiosas se cobram a perfeição. Se torturam com uma autocrítica muito pontuda que lhes sangra por dentro e lhes alimenta de pensamentos negativos.
- Vou ser capaz ou querido o suficiente para manter o emprego? O amor?
Se culpam por tudo. Se desculpam sem terem errado. Sofrem horrores nesses tempos de redes sociais. Sofrem porque se comparam com as postagens felizes dos outros e se sentem piores.
Sofrem com os vácuos. As faltas ou demoras de respostas às suas mensagens. Por conta da baixa autoestima, se sentem rejeitados com a maior facilidade.
A mente ansiosa é uma mente que não se cala. Concentrar fica difícil. Troca datas. Confunde compromissos.
No consultório recebo pessoas com todo tipo de ansiedade. As que paralisam tamanha a angústia. As elétricas, que falam o tempo todo, atropelando conversas. Balançando braços e pernas. Os que mal se mexem, e mal falam. Pessoas tímidas que mal abrem a boca. Que você diz:
- Nossa! Como ele é calmo.
Não são. Não falam, mas pensam. E como pensam. Se preocupam o tempo inteiro. Se comem por dentro. Controlados por fora, sim. Mas irritadíssimos por dentro.
E os que atropelam a conversa falando sem parar. Geralmente se sacudindo e balançando braços e pernas. Os que vão se escondendo dentro de casa. A casa vira um abrigo para conter a angústia que lhes afoga.
Tanto sofrimento transborda pelo corpo em forma de dor, de desconforto. A mente que não para, também não dorme. A insônia é muito comum. Boca seca. Suores excessivos. Mãos geladas. Tonturas.
No medo de não conseguir fazer direito, muitas vezes, nem fazem. Vão protelando, empurrando com a barriga. Os outros cobram. Acham que é preguiça. Má vontade. Não é. É angústia. A cobrança machuca ainda mais.
As dores são muitas. Nas costas, na barriga, em lugares diversos. Não são poucas as pessoas que, por conta de uma crise de ansiedade, vão parar em emergências de hospitais. E os exames não mostram nada. Porque a dor dói no corpo, mas é da alma.
Roer unhas também denuncia que a mente está trabalhando a todo vapor. Comer muito. Ou o contrário, não comer nada. Dormir demais. Ou não dormir nada. Fumar muito. Beber demais. Os excessos frequentes costumam ser um alarme de perigo. O aviso de que ali há uma dificuldade. É bom ficar esperto.
A ansiedade corrói. Dificulta a vida. Mas tem tratamento. Se a ansiedade estiver te atrapalhando no trabalho, nos relacionamentos, na escola, procure ajuda. Busque um psicólogo. Fazer terapia é um ato de coragem. Só para fortes. Mas vale a pena.Tire esse elefante de dentro da alma.
Mônica é carioca, professora e psicóloga clínica. Especialista em atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias.

https://extra.globo.com/mulher/um-dedo-de-prosa/meu-nome-ansiedade-22431130.html

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