Não consegue controlar a ansiedade? A resposta pode estar nos seus genes

Não consegue controlar a ansiedade? A resposta pode estar nos seus genes


Tratamento para a ansiedade pode estar nos genes (Foto: Nappy Photos/Vic Tor/Creative Commons)
Quando os compromissos diários, projetos e desejos não cabem no nosso tempo, passamos a ter a ansiedade como companheira. Ninguém está imune a ela e todo mundo sabe disso. A novidade é que esse sentimento incômodo não aparece apenas quando não damos conta do que nos propomos ou precisamos fazer, se vamos enfrentar um desafio para o qual não nos sentimos preparados ou somos tomados pelas preocupações do dia a dia. Pode ser causada também pelos nossos genes. Esse é o objeto de estudo de Ned H. Kalin, presidente do departamento de psiquiatria da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e editor-chefe do Jornal Americano de Psiquiatria (AJP). Ele estuda os genes relacionados à ansiedade e como eles podem atravessar gerações, além de pesquisar macacos jovens para entender os mecanismos da ansiedade e da depressão em crianças. Confira a seguir a entrevista exclusiva de Kalin à GALILEU:
GALILEU A ansiedade pode ser herdada dos pais?
Ned Kalin 
Sim. Todas as pessoas possuem um nível diferente de ansiedade. Se os pais têm transtorno de ansiedade, é provável que os filhos também o desenvolvam. Logo, sabemos que a ansiedade pode ser passada para toda a árvore genealógica. Isso tem a ver com os genes e com a forma que os pais e os avós agem, se comportam, e como criam as crianças.
Como a ansiedade é transmitida de uma geração para outra?
NK Nossos cérebros têm aprendido através de milênios de evolução como nos manter vivos em situações de perigo. Todos os animais possuem o mesmo sistema cerebral que os mantêm alertas para que não sejam atacados por predadores. Esse sistema de sobrevivência é o mesmo que no nosso cérebro está relacionado com o que chamamos de ansiedade comum, que é a ansiedade saudável. Acreditamos que quando esse sistema está super ativo, sofremos de ansiedade. É um sistema composto por várias regiões do cérebro, todas agindo em conjunto e controlando diferentes aspectos da nossa resposta à sobrevivência
Como esse processo acontece?
NK
 Existem duas maneiras. Uma é através dos genes dos nossos pais e a outra é o que aprendemos com eles. A parte genética é o que chamamos de hereditariedade e a parte do aprendizado é o que denominamos epigenética. O que temos aprendido é que os genes controlam diferentes regiões cerebrais relacionadas com a ansiedade, e acreditamos que a atividade de cada região do cérebro é herdada. É por isso que algumas pessoas são vulneráveis a desenvolver ansiedade e outras são resistentes a ela. 
Ned H. Kalin, da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin (EUA) (Foto: Divulgação)

O que experimentos feitos pelo senhor e por outros pesquisadores com macacos jovens revelam sobre a ansiedade em nós, humanos?
NK Trabalhamos com macacos porque o cérebro e o comportamento deles são similares aos dos humanos. E a razão pela qual trabalhamos com macacos jovens é porque acreditamos que a ansiedade e a depressão começam cedo na vida. Então esperamos entender o que causa ansiedade em macacos jovens e que isso possa nos ajudar a compreender como esse mecanismo acontece em crianças. Com base nisso, poderemos encontrar um tratamento para elas. Já descobrimos quais partes do cérebro estão relacionadas ao risco de desenvolver ansiedade e quais componentes do nosso sistema cerebral são herdados. E fazemos alguma ideia de quais moléculas e genes são alterados para essa função. Tudo isso tem nos levado a entender melhor sobre como podemos ajudar as pessoas [adultos e crianças].
Quais são os genes responsáveis pela transmissão da ansiedade?
NK 
Não sabemos quais ainda. Mas sabemos que todas as doenças são controladas por vários genes e que cada gene contribui apenas com um pequeno percentual para o cenário completo da doença. Temos ideias sobre alguns genes que podem estar envolvidos, mas ainda não temos certeza. Alguns deles são os chamados “genes de neuroplasticidade”. Eles se moldam de acordo com a experiência.
É possível medir a ansiedade por meio da atividade cerebral?
NK Sim. Podemos medir as regiões do cérebro que estão alteradas. Estamos realizando estudos com adultos e crianças que possuem problemas de ansiedade. Escaneando o cérebro dessas pessoas, conseguimos encontrar regiões que estão super ativas. Quando estudamos o cérebro de pessoas com ansiedade e sem ansiedade, encontramos alterações. Se selecionarmos 100 pessoas em uma população e as submeteremos a esse processo, podemos dizer quais regiões estão mais ativas. Mas o problema é que cada indivíduo responde de uma maneira diferente. Por isso, ainda não estamos prontos para usar o escaneamento cerebral para diagnosticar a ansiedade.
Qual é a relação entre a ansiedade e a depressão?
NK 
Ansiedade e depressão frequentemente coexistem. Na maior parte do tempo, quando uma pessoa tem depressão, ela sofre de muita ansiedade. E muitas vezes, quando alguém sofre de ansiedade, é provável que venha a desenvolver depressão. Então acreditamos que as duas doenças estejam relacionadas e que provavelmente há genes em comum e caminhos cerebrais que atuam em ambas.
O que contribui mais para o desenvolvimento da ansiedade, o fator genético ou o ambiental?
NK Acreditamos que todos os tipos de transtornos têm parcialmente causas genéticas e parcialmente causas ambientais. Ansiedade e depressão têm de 30% a 40% causas genéticas e os outros 60 % ou 70% são fatores ambientais. O ambiente pesa mais do que a genética, mas, se olharmos individualmente, isso varia. Se seus pais sofrem de ansiedade, você provavelmente terá chances de ter um transtorno de ansiedade. Dentro da sua família, as causas podem ser mais genéticas do que ambientais. Por isso, algumas pessoas têm a ansiedade completamente determinada pela genética. Já outras possuem uma ótima genética, mas têm problemas como pobreza e traumas. Logo, possuem uma ansiedade totalmente determinada pelo fator ambiental

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